Por Rogério Amaral Souza
Por ser um problema de
ordem social, não podemos reservar a estrutura escolar como um elemento
influenciador nas questões indisciplinares. De fato, a educação exerce
influências, no entanto, o indivíduo já inicia a vida escolar com uma bagagem
de conhecimentos adquiridos no seio familiar e esse tipo de conhecimento pode
trazer alguma dificuldade para o aluno de relacionar um novo conhecimento
adquirido com aquele que já possui. Percebemos, nesse contexto, que as
instituições escola e família estão intimamente relacionadas com a formação do
aluno, futuro cidadão e constituinte da sociedade. Segundo Meirieu (2008), mais
do que nunca, o desafio é: a sociedade deve ser feita pela escola e não a
escola pela sociedade. Numa visão histórica, podemos perceber que o desempenho
do aluno, levando-o ao sucesso ou fracasso escolar, está ligado, complexamente,
ao seu envolvimento com o ambiente social em que está inserido. Nessa relação,
a estrutura familiar, como instituição social mais intimamente ligada ao
indivíduo, é transmissora de valores morais e de conhecimentos. Certamente, os
conceitos ou preceitos morais dos alunos atuais, não são os mesmos dos alunos,
dessa mesma faixa etária, de décadas atrás. Estes prezavam pelo o respeito e
temor (não relacionado com o medo) da profissão de professor, consequência da
noção de disciplina e valor moral adquirida na família. Aquino (1998) considera
tal problema como uma hipótese explicativa quando afirma:
Uma primeira hipótese de explicação da
indisciplina seria a de que "o aluno de hoje em dia é menos respeitador do
que o aluno de antes, e que, na verdade, a escola atual teria se tornado muito
permissiva, e m comparação ao rigor e à qualidade daquela educação de
antigamente"
De fato, as ações pedagógicas
associadas á atitudes docentes, em alguns casos, estão relacionadas com atitude
indisciplinar do aluno, no entanto, tal problema é mais complexo e envolve mais
grandemente outros fatores sociais, que a influência escolar se torna mínima,
comparada com a parcela das outras esferas sociais. Em outros trabalhos que
destacam o desempenho do aluno, não só cognitivo, mas nas suas relações
sociais, num contexto histórico brasileiro, percebemos que o respeito e
princípios morais dos discentes tinham os moldes militares como paradigmas.
Esse modelo educativo militar, por outro lado, reprimia qualquer forma de
expressão de opiniões subentendidas como contrárias ao regime da época. Isto,
de certa forma, não contribuía com uma das principais funções do professor de
ser um elemento instigador na formação de opiniões. Outro fator contribuinte
com a questão comportamental do aluno de hoje é a modernidade. Os recursos
tecnológicos de entretenimento estão muito facilmente acessíveis ao alunado e
sua utilização para o enriquecimento de sua cognição é sufocado pela utilização
de tecnologias que nem sempre são construíveis, porém, mais atrativas. Este
fator está no cotidiano do aluno. Como o ambiente escolar faz parte de seu
cotidiano, a dedicação a esses recursos tecnológicos atrativos são inseridos na
sala de aula. Podemos perceber, com isso, alguns focos
da queixa de alguns professores das escolas atuais: o aluno, seu desinteresse, decorrente da
tecnologia a que tem acesso fora da escola; os meios de comunicação, a sua
influência negativa; a família, não cumprindo seu papel; a escola, que não apoia
o professor; a sociedade, sua (des)organização; e, depois de um certo tempo,
chega-se a colocarem questão a própria relação pedagógica (VASCONCELOS, 1998).
É preocupante perceber que o aluno atual, comparado com o aluno de décadas
atrás, está perdendo o alcance do verdadeiro sentido do estudo na sua formação
e amadurecimento. O desafio maior para o professor é desvincular o aluno desses
atrativos que o influenciam negativamente, inserindo recursos pedagógicos que
despertem mais atenção e estimule a dedicação na busca pelo conhecimento,
dentro da escola. Todavia, se apenas a escola tomar atitudes para modificar
essa problemática, com certeza, essa mudança se tornará fracamente estruturada
e reversível, voltando ao seu estado de desinteresse. A questão da indisciplina
se tornou um problema dotado de tanta complexidade, que envolve, além de todos
os setores sociais e políticos, diversas áreas de conhecimento como a
sociologia, psicologia, filosofia, histórias, entre outras. O que não podemos
negar é que a disciplina é um aspecto do processo de educação escolar e que faz
parte do processo de desenvolvimento do indivíduo.
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