Fale um pouco de sua origem e de sua transferência da aldeia para a cidade:
We’e’ena: Eu sou do povo Tikuna, Alto Solimões, interior do Estado do Amazonas. Vivem lá 35 mil Tikunas. Para chegar até minha aldeia leva-se 8 dias de barco – de Manaus até Tabatinga, que já é fronteira de Peru com a Colômbia. Eu me transferi da aldeia para a cidade aos 12 anos de idade para aprender a ler e a escrever. Me mudei com meus pais para Manaus, onde me formei no Ensino Médio. Nesse meio tempo, participei de um concurso e fui selecionada entre 45 alunos para receber uma bolsa de estudos para um curso de Artes Plásticas. Estudei durante quatro anos, me aperfeiçoei na técnica acrílica sobre tela e, ao mesmo tempo, nunca deixei de trabalhar com o movimento indígena e nem perdi a tradição de minha cultura e língua. Aliás, minha mãe nunca deixou que perdessemos nossas raízes, apesar de residir na cidade. Mas sempre tivemos essa ligação entre aldeia e cidade versus cidade e aldeia, estamos sempre indo e voltando.
- E como foi sua transferência para São Paulo? Como ficou conhecida pela luta em prol dos povos indígenas?
We’e’ena: Quando completei 18 anos, me transferi para São Paulo, onde terminei meus estudos e entrei para a faculdade, faço hoje o curso de Gestão Financeira. Não sabia que tinha tantos outros indígenas que moravam em São Paulo e lideravam movimentos, assim como era comum em Manaus. Fui me integrando aos índios Guarani, Chavante e outras etnias, e nossa união ocasionou o fortalecimento do movimento pelo nosso povo. Então em 2010, fui convidada a conceder uma entrevista em uma TV local para falar da mulher indígena. Uma das representantes da LIBRA - Liga das Mulheres Eleitoras do Brasil -, me conheceu nessa gravação e me fez o convite para integrar a instituição a fim de representar as mulheres brasileiras indígenas.